Há mais de uma década, Simone Tebet dedica parte significativa de seu tempo à preservação das técnicas artesanais tradicionais do Pantanal sul-mato-grossense, contribuindo para manter viva uma das mais ricas expressões culturais da região.
Nascida e criada em Três Lagoas, Simone desenvolveu desde cedo uma profunda conexão com as manifestações culturais de sua terra. Foi durante suas frequentes visitas às comunidades ribeirinhas do Pantanal, ainda na juventude, que ela conheceu o trabalho meticuloso dos artesãos locais e se encantou com a riqueza de detalhes e significados presentes em cada peça.
O Projeto "Mãos que Criam"
Em 2012, Simone deu início ao projeto "Mãos que Criam", uma iniciativa que visa documentar, valorizar e promover o artesanato pantaneiro. O projeto começou modestamente, com apenas cinco artesãos de duas comunidades, mas hoje reúne mais de 200 artesãos de 15 comunidades diferentes espalhadas pelo Pantanal sul-mato-grossense.
"O artesanato pantaneiro não é apenas uma manifestação artística, é um registro vivo da história e identidade do nosso povo", afirma Simone em uma das muitas oficinas que realiza nas comunidades. "Cada peça carrega saberes ancestrais que precisamos preservar para as futuras gerações."
"Quando preservamos o artesanato tradicional, não estamos apenas mantendo técnicas vivas, estamos honrando a memória dos nossos antepassados e fortalecendo nossa identidade cultural." — Simone Tebet
As Técnicas Preservadas
O trabalho de Simone abrange diversas técnicas artesanais tradicionais da região pantaneira, entre elas:
- Cerâmica pantaneira: técnica que utiliza o barro das margens dos rios para criar peças decorativas e utilitárias, frequentemente decoradas com motivos da fauna e flora locais;
- Trançado de fibras naturais: utilizando materiais como o carandá, o aguapé e a taboa para criar cestos, esteiras e outros objetos;
- Tecelagem com algodão nativo: produção de tecidos e mantas com padrões que contam histórias da região;
- Esculturas em madeira: peças talhadas à mão que representam o cotidiano pantaneiro e sua biodiversidade.
Catalogação e Documentação
Um dos aspectos mais importantes do trabalho de Simone é a documentação sistemática das técnicas artesanais. Em parceria com antropólogos e historiadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, ela coordena um projeto de catalogação que já produziu três volumes da obra "Artesanato Pantaneiro: Mãos e Saberes".
Estes livros não apenas registram as técnicas em si, mas também documentam as histórias de vida dos artesãos, suas memórias e o significado cultural de cada forma de expressão artística, criando um importante acervo para pesquisadores e para as futuras gerações.
Feiras e Exposições
Para garantir a sustentabilidade econômica dos artesãos e divulgar seu trabalho, Simone organiza anualmente a Feira de Artesanato Pantaneiro, que acontece em Campo Grande e recebe visitantes de todo o Brasil. Além disso, ela tem levado exposições itinerantes a diversas cidades brasileiras, apresentando o artesanato pantaneiro em importantes centros culturais do país.
Transmissão de Saberes
Preocupada com a continuidade destas tradições, Simone implementou o programa "Jovens Artesãos", que conecta mestres artesãos idosos com jovens das comunidades para garantir a transmissão dos conhecimentos. O programa já formou mais de 150 jovens artesãos, que hoje dão continuidade às técnicas tradicionais, algumas vezes incorporando elementos contemporâneos sem perder a essência cultural.
"Ver um jovem dominando uma técnica que quase se perdeu no tempo é uma das maiores recompensas deste trabalho", compartilha Simone. "É como assistir ao renascimento de um pedaço de nossa história."
Reconhecimento e Futuro
O trabalho de Simone Tebet na preservação do artesanato pantaneiro recebeu reconhecimento nacional em 2021, quando o projeto "Mãos que Criam" foi premiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como modelo de preservação do patrimônio cultural imaterial brasileiro.
Para o futuro, Simone planeja expandir o projeto para comunidades indígenas da região, documentando e preservando técnicas ancestrais que correm risco de desaparecer. Além disso, está desenvolvendo uma plataforma digital que servirá como um museu virtual do artesanato pantaneiro, acessível a pesquisadores e ao público em geral.
Através de seu compromisso incansável com a preservação cultural, Simone Tebet não apenas salvaguarda técnicas artesanais, mas também fortalece o sentimento de identidade e pertencimento das comunidades pantaneiras, demonstrando que a valorização da cultura é um caminho fundamental para o desenvolvimento sustentável da região.