Comunidade

Programa Jovens Culturais: Como Simone Inspira a Nova Geração

Por Juliana Prado
23 Junho, 2023
Tempo de leitura: 5 min

Em uma era digital onde os jovens estão cada vez mais conectados às tendências globais, Simone Tebet criou um programa inovador que está reacendendo o interesse da nova geração pelas tradições e manifestações culturais do Mato Grosso do Sul, transformando-os de espectadores passivos em guardiões ativos do patrimônio cultural.

Lançado em 2020, o "Programa Jovens Culturais" já envolveu mais de 3.000 adolescentes e jovens adultos de 32 municípios sul-mato-grossenses em atividades que promovem o contato direto com mestres tradicionais, artistas locais e manifestações culturais autênticas da região.

Da Preocupação à Ação

A ideia do programa surgiu quando Simone percebeu, durante suas visitas a escolas e comunidades, que muitos jovens estavam perdendo a conexão com suas raízes culturais. "Vi jovens que sabiam tudo sobre músicas e danças de outros países, mas desconheciam completamente o Cururu e o Siriri, que são expressões culturais do seu próprio quintal", relata.

Preocupada com esse distanciamento entre as novas gerações e o patrimônio cultural regional, Simone reuniu educadores, artistas e lideranças comunitárias para criar uma iniciativa que pudesse reverter essa tendência, mas de uma forma que dialogasse com o universo e interesses dos jovens contemporâneos.

"Não queríamos impor a cultura tradicional aos jovens como uma obrigação ou algo do passado. Nossa missão era mostrar como essas tradições continuam vivas, relevantes e podem dialogar com o mundo moderno sem perder sua essência." — Simone Tebet

Os Três Pilares do Programa

O Programa Jovens Culturais está estruturado em três eixos complementares de atuação:

  • Imersão Cultural: experiências intensivas onde os jovens passam dias em comunidades tradicionais, convivendo com mestres da cultura popular e participando ativamente de práticas culturais como festividades, rituais e processos artesanais;
  • Laboratórios Criativos: oficinas que estimulam o diálogo entre as expressões tradicionais e linguagens contemporâneas, resultando em produções culturais híbridas, como música eletrônica com elementos do chamamé, grafite com símbolos pantaneiros ou moda inspirada no artesanato local;
  • Ação Cultural Comunitária: projetos desenvolvidos pelos próprios jovens em suas comunidades, com mentoria de profissionais e apoio logístico do programa, promovendo o protagonismo juvenil na valorização cultural.

Tecnologia a Serviço da Tradição

Um diferencial importante introduzido por Simone no programa é o uso estratégico de tecnologias digitais. Ao invés de vê-las como ameaças às tradições, ela as incorporou como aliadas na preservação cultural. Foi criado o aplicativo "CulturMS", onde os jovens podem registrar manifestações culturais, compartilhar suas experiências e acessar conteúdos educativos sobre a cultura regional.

"A mesma tecnologia que pode afastar os jovens de suas raízes, quando bem utilizada, pode aproximá-los delas. Nosso aplicativo já tem mais de 15 mil downloads e está criando uma verdadeira rede de jovens engajados com a cultura local", explica Simone.

Transformação e Impacto

Os resultados do programa já são visíveis em diversas comunidades. Em Corumbá, por exemplo, um grupo de jovens que participou do programa criou o "Coletivo Raízes", que hoje produz um festival anual de música que mescla ritmos tradicionais pantaneiros com hip hop e música eletrônica, atraindo mais de 5 mil pessoas.

Em Porto Murtinho, jovens indígenas da etnia Kadiwéu estão documentando e renovando padrões gráficos tradicionais de sua cultura, aplicando-os em produtos contemporâneos como camisetas e produtos digitais, gerando renda e preservando seu patrimônio visual.

Multiplicadores Culturais

Uma estratégia fundamental implementada por Simone foi a formação de "Multiplicadores Culturais" - jovens que recebem treinamento especial para se tornarem promotores culturais em suas próprias comunidades. Atualmente, há 120 multiplicadores ativos em todo o estado, muitos deles atuando em áreas rurais e comunidades remotas onde o acesso à cultura formal é limitado.

"Os multiplicadores são o coração pulsante do programa. Eles falam a mesma linguagem dos outros jovens e conseguem traduzir o valor das tradições de forma autêntica e inspiradora", destaca Simone.

Reconhecimento e Futuro

O Programa Jovens Culturais recebeu em 2022 o Prêmio IPHAN de Educação Patrimonial, sendo reconhecido como uma das iniciativas mais inovadoras do Brasil na aproximação entre juventude e patrimônio cultural. Além disso, tem sido apresentado como caso de sucesso em fóruns internacionais sobre políticas culturais.

Com sensibilidade para entender os anseios da juventude contemporânea e visão estratégica para criar pontes entre tradição e modernidade, Simone Tebet está transformando o cenário cultural do Mato Grosso do Sul através do Programa Jovens Culturais, garantindo que as ricas manifestações culturais da região não apenas sobrevivam, mas floresçam com novas cores e significados nas mãos da nova geração.

Juliana Prado

Jornalista especializada em cultura e juventude, Juliana tem acompanhado iniciativas de educação cultural por todo o Brasil. É autora do livro "Juventude e Patrimônio: Novos Diálogos" e coordenadora do Observatório de Políticas Culturais para Juventude.

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